Os perigos dos planos alimentares restritivos

Os perigos dos planos alimentares restritivos

Com certeza você já se deparou com alguma dieta ou planos alimentares restritivos, seja porque algum amigo faz, seja porque você mesmo já fez, seja porque viu em alguma capa de revista. Elas aparecem em alta entre influenciadores ou espalhadas em blogs da internet. O nome lhe parece estranho? Não se preocupe que o conceito não é.
Dietas restritivas são todas aquelas que possuem uma ou mais dessas características:

  • Poucas opções de alimentos;
  • Grupos de macronutrientes inteiros descartados (carboidratos, gorduras ou proteínas);
  • Grupos de alimentos descartados (leguminosas, cereais, farináceos, frutas);
  • Consistência líquida em todas as refeições (sucos, sopas, shakes);
  • Proibições explícitas e excessivas.

O emagrecimento é o desejo de grande parte da população hoje em dia. Está cada vez mais difícil encontrar alguém que esteja realmente satisfeito com o seu corpo. Consequentemente, o aumento na procura por dietas com as características citadas acima segue crescente. Low carb, cetogênica, dieta da proteína… a cada ano surgem novos métodos supostamente eficazes para o emagrecimento. Mas será que essas premissas são verdadeiras?

Efeito sanfona

Já vou entregar a cereja do bolo logo no começo. Estudos indicam que a prática contínua de planos alimentares restritivos resultam no famoso e temido efeito sanfona.
A explicação para tal feito é simples: o emagrecimento eficaz baseia-se em reeducação alimentar, transformação de hábitos e consciência alimentar, além da prática regular de exercícios físicos, como já falamos por aqui. O princípio das dietas restritivas é atribuir a culpa do sobrepeso a algum fator específico alimentar, o que dificilmente é real em indivíduos saudáveis e ativos.
Logo, a lógica é a seguinte:

  • O indivíduo deseja o emagrecimento;
  • Ele começa uma dieta;
  • A dieta é muito fora da realidade habitual dele, muito distante da forma que ele costuma se alimentar;
  • O indivíduo passa a comer menos, seja por falta de opção ou pela brusca mudança de cardápio;
  • Passa a ter fome;
  • Perde peso num primeiro momento, em função da restrição de alimentos e consequente restrição calórica;
  • E finalmente ocorre a desistência e o indivíduo volta a se alimentar como antes, recuperando o peso e ganhando ainda mais uns quilinhos.

Sabe por que se ganha peso após um período de restrição? Porque a restrição deixa a maior parte das pessoas com fome. A fome é o organismo pedindo energia na forma de comida, e se não oferecemos essa energia, o nosso metabolismo tem rotas específicas para fabricar energia a partir de compostos já existentes no nosso corpo, como proteínas, glicogênio e tecido adiposo. Ao gastar essa energia estocada durante os períodos em que estamos com fome, ou seja, o jejum, a prioridade do metabolismo assim que houver um excedente na alimentação é convertê-lo a reserva energética para repor o que foi gasto.
Infelizmente, nosso metabolismo ainda acha que somos todos homens das cavernas e que ficaremos sem estoque de comida por muito tempo. Com isso, se desespera e retém bastante energia, recuperando o peso perdido durante a dieta restritiva.
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Baixa disponibilidade de vitaminas ou baixa absorção

Existem vitaminas lipossolúveis, o que significa que as mesmas só conseguem ser absorvidas pelo corpo na presença de lipídios. Elas são as famosas A, D, E e K. De forma bem simples: em uma dieta onde a taxa de lipídios é extremamente baixa, por mais que a ingestão dessas vitaminas seja alta, não será possível absorvê-las com eficácia.
Além disso, existem as dietas que evitam açúcar ou carboidratos em geral. As frutas, que são as maiores fontes de vitaminas, possuem frutose – que é um carboidrato. Em uma dieta restritiva para frutas, a ingestão de vitaminas se torna extremamente dificultada, podendo trazer prejuízos para a saúde do indivíduo assim que a deficiência for constatada pelo organismo.

Restrição gera compulsão

Essa frase tem tido bastante repercussão ultimamente, sendo utilizada por alguns como uma espécie de lema. A verdade é: de fato, restrição pode gerar compulsão.
Imagine a seguinte situação: Laura come macarrão desde criança, sendo esse seu alimento preferido. Ela costuma comer macarrão de 4 a 5 vezes por semana, nas mais variadas preparações, misturando com outros alimentos de diversos grupos. Porém, a Laura gostaria de perder alguns quilos e por isso decidiu entrar em uma dieta sem carboidratos.
A Laura ama macarrão e costuma comê-lo de forma saudável, ou seja, sempre que come, come uma porção moderada e equilibrada com outros grupos. Ao ficar sem macarrão por algumas semanas ou meses, o mesmo vai passar a ser muito mais apetitoso para a Laura. Na prática, isso significa que quando ela não aguentar mais de vontade de comer macarrão, vai acabar comendo uma panela inteira sozinha em um curto período de tempo.
A partir dessa atitude, a Laura vai se sentir culpada por não ter conseguido se controlar, então vai desistir momentaneamente e comer sem consciência e controle diversos alimentos que lhe foram proibidos. A frustração vai fazer com que ela desista, mas a culpa por desistir vai fazer com que ela entre em uma dieta ainda mais restritiva… O que nos leva de volta ao começo do ciclo.
Ninguém deseja e muito menos merece sofrer por não poder comer o que se gosta. Comer também é sobre prazer, e é importante equilibrar a saúde física e mental, sabendo fazer boas escolhas para que seja possível não abolir da dieta alimentos que são prazerosos.
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Dietas restritivas não educam nutricionalmente

Como já falamos acima, o processo de emagrecimento consiste em aprendizagem e desenvolvimento de hábitos, além do conhecimento a respeito do que é saudável e do que não é. Planos alimentares restritivos não respeitam a particularidade de cada pessoa, seus gostos pessoais, rotina, tempo, acessibilidade, entre outras questões. O que significa que, ao terminar alguma dieta restritiva ou ao desistir de uma, quem esteve no processo não vai ter aprendido a se alimentar melhor, só vai ter seguido regras generalizadas sem mudar o comportamento ou o mindset.

Planos alimentares restritivos podem ser úteis em casos específicos

Dietas restritivas se mostram eficazes no tratamento de alguns casos clínicos, como restrição de alguns carboidratos para diabéticos ou dieta cetogênica no tratamento de alguns casos de epilepsia.

E se o nutricionista fizer um plano alimentar restritivo?

Nesse caso, é importante conversar com o profissional para que seja possível alinhar a demanda existente com o trabalho que ele oferece. O plano alimentar tem que funcionar para o seu caso, respeitando suas limitações e focando na sustentabilidade do método. O diálogo e sinceridade no momento da consulta são essenciais para que o profissional possa atender às expectativas do paciente e ofereça a melhor ajuda e acompanhamento.
 
Agora você está sabendo dos perigos de manter uma dieta restritiva. Não se preocupe: existem outras formas saudáveis, menos sofridas e eficazes no longo prazo para o emagrecimento. Se o seu desejo é emagrecer, corra para o nutricionista para que o seu plano alimentar possa ser individualizado e de acordo com os seus objetivos!